#iGirlPower
Ela é filha de Oxalá
No mês de Iemanjá, a iGirl Power fala sobre a Umbanda e a intolerância religiosa
Por: iFox/Micael Machado (micaelaraujomachado@gmail.com)
Por: iFox/Micael Machado (micaelaraujomachado@gmail.com)
Segundo o dicionário Aurélio, a
intolerância religiosa é uma violação aos direitos humanos e mais, não acontece
somente no Brasil. O ato é caracterizado como quando alguém tem
atitudes e ideologias preconceituosas contra religiões que possuem crenças e
hábitos diferentes da sua, vai além do desrespeito e se torna crime.
Para se ter uma ideia, segundo dados
fornecidos pelo MDH – Ministério dos Direitos Humanos –
em 2017, a maior parte das vítimas, cerca de 39%, são pessoas de religiões de
matriz africana (clique aqui para ver). Ainda no ranking das
religiões que mais sofrem preconceito estão a umbanda com 26 casos, candomblé
com 22 e em seguida, a católica com 17 e a evangélica com 14.
Diante disso, surge a história da iGirl
Power, Kaciele Henrique (20), estudante de Jornalismo pela UFPel – Universidade
Federal de Pelotas. Marcada pelo seu amor à religião de matriz africana, Umbanda,
que rompe qualquer fronteira.
O contato inicial com uma religião, em
geral, acontece de duas maneiras: fomentado pela curiosidade diante do
desconhecido ou, por convites de amigos e familiares. Com a estudante de
jornalismo não foi diferente, ocorreu ainda na infância, incentivado por um amigo, membro da corrente. Sobre a primeira ida
ao terreiro de Umbanda, a entrevistada lembra como se fosse ontem:
“dia 13 de agosto de 2015, na festa das pombas giras”.
“Quando cheguei me deparei com um homem
grande, bonito, trajando vestes pretas com dourado e aquilo me deixou
encantada. Esse homem recebia muitos presentes e, no decorrer da festa, as
pessoas aplaudiam e se curvavam para ele. Quando fui envolvida em seu abraço,
senti que todos os problemas que eu tinha iriam ser resolvidos”, falou Kaciele
Henrique ao relembrar o seu primeiro contato com a Umbanda. Depois
de um tempo, frequentando o Centro Espírita Umbandista Tupinambá do Fogo Ilê D'Bará, entendeu quem era o homem em questão: seu
pai de santo e a entidade, amigo e companheiro, Exú rei das sete
encruzilhadas.
Kaciele Henrique no Centro Espírita Umbandista Tupinambá do Fogo Ilê D'Bará (Foto: Acervo Pessoal) |
“A palavra dele tocava o meu coração”, contou Kaciele Henrique sobre o contato com Exú rei das sete encruzilhadas.
A fé é algo que ultrapassa barreiras, é
inexplicável e rege boa parte das pessoas. Para a nossa iGirl Power,
a crença em Iemanjá e Ogum sempre
existiu e a vontade de saber mais sobre eles não cabia à apenas uma pesquisa
no Google. No dia 13 de agosto, o convite de seu amigo e o
querer compreender o motivo de tantos comentários ruins das pessoas de
fora da religião era o que a motivava estar no terreiro para tirar suas
próprias conclusões. No entanto, o motivo de sua permanência na religião foi
além do encantamento instantâneo pela religião de matriz africana e está
em sua fé.
Kaciele Henrique usando turbante (Foto: Acervo Pessoal) |
“Não sinto medo, apenas desconforto quando as
pessoas olham torto para quem usa turbante e guia no pescoço”, relatou Kaciele Henrique.
“Por muito tempo contestei, hoje em
dia, eu dou as costas quando escuto algum comentário repleto de preconceito
para não poluir minha mente e meu coração. Algumas pessoas são muito fechadas e
não estão dispostas a abrir uma nova janela para enxergar as coisas de um modo
diferente. Gostam mesmo de afrontar e de tentar poluir com palavras ofensivas”,
disse Kaciele ao ser questionada sobre a intolerância
religiosa. Ainda sobre o assunto, a entrevistada
cita que é frustrante passar por ataques, mas é necessário lidar da melhor
forma, afinal não aceita esconder quem é e o que defende.
“Sou umbandista com orgulho e faço
questão de demonstrar isso, doa a quem doer, de resto eu deixo que a justiça
divina resolva”, ressaltou a entrevistada diante de um cenário marcado
pelo preconceito, em que templos são invadidos e
profanados. Perseverar é a palavra mais mencionada por todos aqueles
que amam o Candomblé, inclusive, a filha de Oxum diz
que sua fé a move e que as pessoas que frequentam a casa de religião a ajudaram
a fortalece-la.
O maior
desafio para quem é de uma religião é lidar com a falta de informação que vem que
de quem não é munida de julgamentos. A
recusa das pessoas em entender que há sim espaço para todas as religiões, gera
preconceito e comentários que marginaliza os praticantes. “Um ponto que acaba
se tornando um desafio aos filhos de fé, é a falta da conduta correta dos próprios praticantes, denigrindo a imagem dos umbandistas”, completando “não sou macumbeira, sou umbandista”, declarou Kaciele Henrique. A Umbanda
vira alvo de guerra e de comentários maldosos sendo que quem é realmente da
religião e a leva a sério, sabe muito bem que bicho morto na encruzilhada não
faz parte da Umbanda e muito menos é religião.
Kaciele Henrique com seus amigos do Centro Espírita Umbandista Tupinambá do Fogo Ilê D'Bará na Festa de Iemanjá de 2017, na praia do Cassino (Foto: Acervo Pessoal) |
Terminando
a entrevista, a iGirl Power declara
emocionada que a terreira se tornou a sua segunda casa e a Umbanda, o seu chão,
onde se sustenta e tira forças para caminhar. Agradecendo aos Orixás, guias, seus irmãos de corrente e
seu pai de santo diz que sem eles, nada seria possível. Distribuindo sorrisos, agradeceu iFox pelo fato de ser chamada para ser iGirl Power de fevereiro e diz “espero que entendam e gostem um pouquinho da minha história como umbandista, que o grande pai Oxalá abençoe a todos, axé!”.
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